sábado, 27 de março de 2021

World Wide Web

Um argumento típico nas discussões de Facebook é o da fragilidade do conhecimento por ser obtido na internet. Sejamos claros: sim, a internet é uma imensa lixeira. Mas as pérolas também lá estão.
E não, o meu conhecimento não se baseia exclusivamente no Google. Estudo desde sempre, e fui construindo o meu percurso académico sempre em segundo plano. Colocar comida no prato sempre foi prioritário. Comecei a trabalhar com 7 anos. Um rebanho de ovelhas ocupava grande parte da minha infância. E quando não era o rebanho, era o cultivo da terra. Foi sempre assim, lutar pela sobrevivência.

Universidade só aos 40 anos, e o quanto eu gostei do curso. Importa pois dizer que o meu conhecimento vai muito além dos doutoramentos "à lá minute" do dr. Google. Livros em papel sempre fizeram parte do meu mundo. E quando o pai me proibiu de ler, porque não dava atenção ao rebanho que no fim do dia regressava galgo, de barriga vazia, aprendi a esconder os livros entalados no cinto, junto às barriga e escondidos debaixo da camisola. Por pouco escapei de apanhar por insistir nas leituras. Pobre pai, bom coração, mas analfabeto: sabia lá ele o que eram livros ou para que serviam? Ali o que importava eram as ovelhas, o trigo, as batatas, a vinha ou os animais para abate.
Sim, hoje poucos livros de papel me passam pelas mãos. Hoje os livros migraram para a internet. Mas felizmente sei usar as ferramentas. 30 anos de informática deram traquejo para conseguir leituras de qualidade. Raramente me deixo apanhar por literatura de má qualidade, ou pior, por falsa informação. Gosto de ler os nomes dos endereços de internet. Gosto de saber o que vem depois do ponto, e que por norma indica o país de origem. Gosto de saber qual foi a instituição ou pessoa que escreveu o texto. Gosto de ver os logotipos e procuro saber quem está por detrás. Não, o meu conhecimento não vem apenas da internet, e quando vem sei procurar informação fidedigna. É este o motivo pelo qual não me deixo abater por tal argumento. Sou ecologista desde que me conheço. Sempre defendi a biodiversidade, num tempo e numa cultura que via os pardais como inimigos, porque comiam o trigo na fase das sementeiras e na fase das colheitas.
Eram apanhados aos milhares com uma pressão de ar e comidos. As águias de asa redonda eram abatidas a tiro, porque competiam com os caçadores por causa dos coelhos. Eram assim o Portugal dos anos 70 e 80. Hoje é muito diferente, e nem sempre para melhor. Não sou ecologista de aviário nem despertei para a ecologia agora. É uma vida de luta.
A internet é boa ou é má? Nem uma nem outra. É um espelho daquilo que lá é colocado. Temos é que saber ser criteriosos na sua utilização. Por isto o argumento da internet não cola. Ela é suficientemente vasta para que eu possa escolher a minha internet. Regra geral é fácil distinguir o trigo do joio.
Às vezes é difícil, a desinformação vem de forma subtil e disfarçada e dá trabalho perceber o real interesse dos textos e de quem os pública. Mas não estou desarmado.

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