sábado, 4 de junho de 2011

Força Zé!

Faço parte da geração que cresceu a ouvir a música dos Xutos e Pontapés. Fazem parte da minha existência, como o azul do Tejo. É assim, existem e nem se questiona. O que eu sei é que no caso do Zé, foram certamente muitos anos de "xutos" e alguns "pontapés" que deixaram mossa. O resultado foi um fígado falido, e a necessidade de um transplante hepático. Ora, eu não quero que o Zé morra nem que os Xutos desapareçam. Só posso desejar força ao Zé. Mas paira uma dúvida na minha mente: sei que os médicos se debatem com um déficite crónico de órgãos para transplante. Sei também que quando aparece um candidato a transplante, os médicos vestem a pele de deuses e decidem quem vai receber o precioso órgão doado. E sei que um dos critérios de recusa passa por saber se o receptor passou uma vida a desprezar e a maltratar o seu corpo. Ora o Zé passou mesmo a vida entre "xutos e pontapés". Não estou certo que ele recebeu o seu novo fígado apenas por ser quem é. E isso causa-me uma dúvida inquietante. Será que algum anónimo que nunca "xutou" não morreu ou vai morrer por falta de um fígado, só porque teve a infelicidade de ser um simples anónimo?
Eu quero - e acredito todos nós - que o Zé fique entra nós, que a música dos Xutos continue. Mas espero que os aprendizes de deuses não se deixem apaixonar e a pôr de lado a sua ética, deixando que alguém morra, só para que a música dos Xutos continue. Talvez não, talvez esteja a ser pessimista.
Por isso digo de novo, Força Zé!