sábado, 27 de março de 2021

Reinventar o Passado para Servir Agendas do Presente

Chamava-se Fernão de Magalhães, era português e navegador. Ofereceu os seus préstimos ao rei D. Manuel I para efectuar uma viagem às Índias orientais. Recebeu um não do rei português e por isso foi para Espanha, que o financiou. Em 1519 parte de San Lucar de barrameda para fazer a primeira circum-navegação do globo terrestre. Aquilo que físicos, astrónomos e matemáticos já tinham demonstrado, Magalhães provou-o. Na verdade morreu nas Filipinas, mas a nau Vitória haveria de regressar a Espanha, comandada por um espanhol. A viagem de descoberta teve um preço elevado, mas o ganho em conhecimento foi imenso. Ao fim de 500 anos Portugal e Espanha decidem comemorar o evento, e de Espanha vem uma reacção da direita nacionalista reclamando o feito apenas para Espanha. 500 anos depois um evento desta natureza ainda serve de arma política. Não me surpreende. Evocar feitos e heróis do passado, reais ou imaginários é muito recorrente e serve propósitos identitários fortes. Mas na viagem de Magalhães não há dúvidas. Todos sabem que ele era português, mas foi ao serviço de Espanha que a viagem foi feita. Faz todo o sentido que seja uma comemoração conjunta. Magalhães fiou na história. Há pinguins com o seu nome. Na terra do fogo há um estreito com o seu nome. Duas galáxias-satélites da via láctea têm o seu nome: a grande nuvem de Magalhães e a pequena nuvem de Magalhães. Há crateras na lua e em Marte com o seu nome. Ele tem um lugar na história que é inquestionável. Já a reacção do nacionalismo de Castela é lamentavel. Mas nada de novo vindo do outro lado da fronteira. As nações que a compõem e que apostam na independência deixam o centralismo madrileno nervoso. Acima disso tudo Magalhães brilha pela eternidade. O rio do esquecimento não lhe assiste.

 

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