domingo, 14 de março de 2021

Da natureza ou da cultura?

 Aí está ele: Apolo, divindade do panteão Helénico.

Atente-se ao detalhe que toda a gente conhece, mas que poucos se questionarão: para que servem as mamas dos homens exactamente?! Se eles não parem nem amamentam porque raio todos nascem com mamilos?
Se está errado, vamos lá corrigir o erro: retirar órgãos inúteis do Ser humano, certo? Errado!
Isto a propósito das publicações homofóbicas do mais baixo e vulgar que circulam no ciber-espaço e nas redes sociais.
Como diz o cartaz da burra de saias, se "se tem pilinha é menino, se tem pipi é menina". Obviamente que a burra nem sonha que na fase embrionária todos os humanos são femininos (ah, e com guelras). engraçado, não? Procurem fotos de um embrião humano, de um réptil e de uma ave e depois tentem adivinhar qual é o humano. São iguais!
Voltando aos pipis e ás pilinhas, percebe-se que os básicos só entendem a sexualidade humana ao nível da genitália. Nem lhes passa pela cabeça que o principal órgão sexual humano é o cérebro, não a "ferramenta". Ora, é na fase embrionária, logo nas primeiras semanas, que o cérebro humano será formatado para ser masculino ou feminino.
Mas a relação dos genes com o meio é complexa e frágil, e no que toca à diferenciação de sexos cria muitas cambiantes. Os estudos já vão dando pistas concretas sobre a orientação sexual dos humanos. Um facto que já se sabe é que um embrião humano se comporta no útero materno como um parasita.
Sim, soa mal, a cultura não gosta de assumir isso. Mas a biologia não: o feto desenvolve-se à custa dos nutrientes que rouba da mãe, o que define uma relação parasitária. Em termos estritamente biológicos é isto que se passa. Acontece que o corpo da mãe reage contra o bebé desenvolvendo anticorpos contra ele. Isso mesmo.
também sabem os biólogos, quantos mais filhos a mulher tiver, mais anticorpos irá produzir. Isso leva à feminilização do cérebro, e a estatística demonstra que a propensão para que os últimos filhos nasçam gays é muito maior. Não é determinista, mas é estatisticamente verificável. As primeiras 12 semanas são determinantes. O equilíbrio hormonal da mulher é vital na formatação do cérebro. Os genitais vêm depois. Em casos extremos um cérebro pode ser transexual: aquele cérebro nasce no corpo errado e a pessoa sabe isso desde sempre.
Quando se trata de um cérebro feminino num corpo masculino o desespero leva muitas vezes à auto-castração, ás vezes a frio. aquela mulher sabe que aquele pénis está ali a mais.
Transexualidade não é classificada como homossexualidade. São pessoas que nascem com a genitália não coincidente com o sexo real. O outro lado é o dos transexuais masculinos. Cérebros masculinos que sabem faltar um pénis naquele corpo. Não são questões menores nem brincadeiras: são pessoas reais e concretas que sofrem com a pressão cultural e são inúmeros os casos de auto-mutilação e de suicídio. Por conseguinte a responsabilidade individual de cada um na orientação sexual é igual à da escolha da cor dos olhos ou da altura: zero. Absolutamente nenhuma.
Entretanto a ciência avança e aprofunda o conhecimento. durante muitas décadas pensou-se que o código genético, o "livro de instruções" que contem tudo o que é necessário para fazer um novo ser poderia ser um guião fixo e determinista. Na verdade as descoberta mais recentes falam de mecanismos mais subtis, introduzindo o conceito da epigenética: trata-se de marcadores genéticos que, em função do meio, de stress, mudança, carência ou abundância reagem, transmitindo ao genoma instruções acerca de um ou mais genes como resposta à pressão ambiental. Nesse sentido a homossexualidade pode ser encarada como mais um recurso para a natureza se auto-regular: um gay ou uma lésbica podem parecer inúteis para a reprodução social, mas na verdade essas variantes da sexualidade servem geralmente para ajudar a criar a prole de alguém com quem partilham genes. O que se sabe com toda a segurança é que orientação sexual nunca é escolha, e que gays, lésbicas ou transgenero são por norma pessoas pacíficas e cooperantes.
Em termos biológicos é assim, em termos culturais existe a pressão para comportamentos estereotipados. A burra de saias brasileira diz que "menino veste azul, menina cor-de-rosa".
Todos os comportamentos de género nos humanos são estereotipados e formatados pela cultura do grupo em que se insere. No que se refere à orientação sexual a ciência observa comportamentos homossexuais em diversos animais: de aves a golfinhos, passando por ovelhas e leões, até aos grandes símios, como os chimpanzés e bonobos, são comportamentos observados e estudados há muito tempo.
Em termos científicos a RDA fez nos anos 60 uma experiência perfeitamente científica, ainda que eticamente execrável: a experiência pavorosa conta-se assim: o país queria ganhar muitas medalhas olímpicas femininas. Tratou de procurar mulheres e homens robustos (eugenia) e fê-los reproduzirem-se entre si. Só vingavam as meninas. Durante aquelas gravidezes injectaram testosterona naquelas mulheres. O resultado do foi claro: quando aquelas meninas se tornaram jovens adultas foram treinadas para os jogos olímpicos. O resultado da experiência foi este: elas ganharam muitas medalhas olímpicas. O outro facto importante que resultou desta experiência é que são todas lésbicas!
Já sabemos o que a testosterona faz às meninas se em excesso durante a gravidez. Ou seja, nesta altura temos a receita perfeita para criar lésbicas e transexuais femininas! é científico, não é nada ético.
Sabemos que não há um gene gay: não é determinista, é fruto de uma relação entre genes e meio. Longe do modelo simplista dos simplórios, a sexualidade dos serem superiores e concretamente dos humanos é diversa.
Dentro da homossexualidade masculina observa-se, além da transexualidade, homossexualidade de elevado grau feminino, moderado grau e gays hiper-masculinos. Há muitas variantes e cambiantes, e depois há a pressão cultural, sempre disponível para infernizar a vida alheia. É engraçado vestir a pele do machão empertigado ou da mulher super-feminina. muitas vezes se sabe como é, públicas virtudes, vícios privados. Faz lembrar aquela aldeia que tinha a "bicha" de estimação para gozarem com ele. No dia em que a "bicha" disse que estava com HIV o machões da aldeia foram todos a correr ao médico fazer análises!
Não, não é assim tão simples: não é porque nasce com pilinha que é automaticamente homem, nem é porque nasce com pipi que é automaticamente mulher. Só burros e ignorantes pensam assim. Muitas vezes fazem-no para esconder as suas fantasias e fragilidades, à conta do sofrimento alheio. A escolha da orientação sexual é da responsabilidade do próprio tanto quanto a escolha da cor dos olhos: zero. Nada. Absolutamente nada!
Antes de virem despejar ignorância e homofobia nas redes olhem-se bem ao espelho, vejam qual é a cor dos olhos e sintam vergonha, muita vergonha por terem olhos castanhos ou verdes. Se tiverem um pingo de vergonha na cara comprem uns óculos para disfarçar, ou escondam-se em casa. Ou melhor, suicidem-se. Agora ninguém tem obrigação de ver a cor dos olhos de ninguém. Tal como ninguém tem a obrigação de ver duas pessoas do mesmo sexo andarem de mãos dadas na rua, ou dar um beijo em público. Como dizia o outro, "o inferno são os outros".

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