segunda-feira, 22 de março de 2021

A Caixa das Jóias

 

A caixa das jóias guarda tesouros
Às vezes guardava moedinhas, poupadas a custo pela mãe e pelo pai.
Serviram para ir à loja da senhora Tita comprar um pacotinho de bolachas baunilha, que levavam o meu paladar de menino às portas do paraíso.
De vez em quando, e se as moedinhas desapareciam da caixa, eu procurava na gaveta da cómoda, e não tinha que enganar: lá estava o prémio, feito de bolachas, e do sorriso feliz espelhado no rosto dos pais.
Na caixa das jóias cabiam todos os tesouros que pertencem aos pobres.
Nunca viu ouro, notas, diamantes, pedras preciosas. Quem disse que esses importam?
Na caixa das jóias hoje sobra espaço vazio, resta o velho relógio do pai, mais o anel de prata da tia Caldeira.
E no entanto nenhuma caixa de jóias é mais rica do que esta. Ela está cheinha, a abarrotar, a transbordar de tesouros.
Recordações de uma infância feliz, de colo e de mimo, dado sem reservas nem condições, vindo de pais e manas, privilégio de ser caçula e único rapaz. Um menino nas mãos das fadas!
De nada me importa o vazio de ouro ou de gemas preciosas, que nunca teve nem tem: a minha caixa de jóias sempre guardou outros tesouros. Ontem, as moedinhas que compravam bolachas baunilha. Hoje, o meu imenso tesouro de recordações e saudades.


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