quinta-feira, 8 de abril de 2021
Mar da Palha
sábado, 3 de abril de 2021
Mata-velhos e Pedaços de Telhas
A Culpa é do Algoritmo?
Terras-fetiche
A Raiz do Mal
Homens e Papagaios
E se um homem e um papagaio forem afinal a mesma coisa?!
Guerras Subtis
Quando a guerra dos sexos se veste de flores ou de plantas comestíveis.
Por cá, as mulheres competiam ou cooperavam entre si para terem jardins floridos e bonitos. Pelo contrário, os homens desdenhavam disso; para eles a terra era preciosa demais para ser desperdiçada com flores.
Eles cooperavam entre si pela troca de plantas, sementes ou árvores de fruto que garantissem comida na mesa. O engraçado disto é que eu participava desta guerra sem saber, e herdei-a sem me dar conta disso. No nosso quintal as manas plantam flores. A erva da fortuna, que eu detesto, fica, em memória da minha irmã Marília, que a plantou e de que gostava tanto.
As outras flores ficam, por carinho e respeito pela Maria, dona oficial de uma casa que continua na prática a ser de todos nós e que nesta altura vibra de vida.
Casa quase cheia, com gente e com memórias dos que já partiram. As flores servem também para honrar os mortos, são postas na campa da família. Adivinho que nesse local improvável onde agora se encontram que a mãe e a mana as apreciam, e que o pai continua a rir e a abanar a cabeça que não, que a terra deve servir apenas para produzir alimentos.
Eu herdei também isso do pai: por mim o quintal só teria estas plantas; os pessegueiros, as nogueiras, as nespereiras, o pé de fisalis, que eu e o pai plantámos, ou o aromático pé de poejo, planta aromática e medicinal, ameaçada de extinção, e que ali nasceu espontaneamente.
Dou espaço para as flores (eu mesmo plantei um pé de hera que trouxe da quinta da Moita Longa e que agora tenho que desbastar, é bonita mas também é um parasita que mata tudo o que abraça), mas prefiro plantas que dêm frutos. Feliz no meu cantinho a dar colo à minha sobrinha-neta Ava.
O Boi
E porque haveria ele de querer saber de tais assuntos?! Ele só quer ser um boi: a ele lhe chega ter o seu prado para ruminar erva e muitas vacas para poder cobrir.
Assim é a natureza dos bois!
sexta-feira, 2 de abril de 2021
A Culpa é do Lagarto
Panteão
Nunca achei que o Eusébio merecesse tais honras. Oficialmente foi para lá por ter dado muitos pontapés numa bola. Creio no entanto que no inconsciente nacional está implícito um pedido de desculpas pela escravatura negra que Portugal praticou durante séculos. Um negro no panteão nacional sublima esse desconforto histórico. Se tivesse sido um homem das letras, da ciência, da arte ou da cultura nada teria a opor. Mas era um homem do futebol. O seu panteão era o estádio do Benfica. Já quanto à Amália não me repugna, embora acredite que deveríamos ter esperado mais tempo. Seria esse o factor diferenciador. No entanto a Amália incorpora a essência da cultura portuguesa do século XX e creio que todos estaremos de acordo, está acima da luta política e será lembrada pelos séculos.
Zeca, Salgueiro Maia, ou Soares são figuras incontornáveis da nossa vida política, mas não creio que atinjam "alturas de incenso". A grande figura que lá colocaria seria Aristides de Sousa Mendes: humano e justo numa das épocas mais negras da história, ficou só contra o mundo, mas de bem com a sua consciência. Pagou com a miséria, sua e da família o facto de ter sido justo e humano numa altura em que o mal andou à solta. Talvez não tenha sido santo, mas os 30000 que salvou são os melhores advogados.
Neste país de hipócritas, governado por elites pífias e habitado por um povo inculto, mais disponível para paixões futebolísticas do que para a poesia, o panteão corre o risco de se tornar num símbolo de vulgaridade e desdém de um Portugal que teve um papel determinante no mundo.
No fundo o panteão é apenas um espelho que apenas reflecte aquilo que somos. Gostamos nós de ver aquilo que ele reflecte? Quem lá queremos no futuro? Aristides de Sousa Mendes, ou deixamos o espaço (que é curto) para lá depositarem o CR7 ou o Mourinho? Vamos escolher, ou nem sequer merecemos ter um tal monumento?
Velhos Gigantes
Gigantes do passado, vencidos pelo tempo.
Há um moinho de vento sem engenho que fica no Sobral da Lourinhã. Morreu com o moleiro. Os restantes são ao lado, na Pinhoa.
Em vez de abandonados foram patrimonizados, com excepção de um que foi transformado em casa de habilitação. Serviram desde o século XV, as velas são adaptadas das velas das caravelas. Até há algumas décadas toda a gente semeava trigo e milho que depois era levado ao moinho.
Em criança deslumbrava-me com a beleza e elegância destes moinhos e fazia réplicas deles. O fascínio pelo vento mantém-se até hoje. As cabaças faziam o moinho "cantar". Dentro do moinho o moleiro sabia a direcção e a intensidade do vento pelo cantar das cabaças e pelo galo de ferro no topo do capelo.
Se o moleiro morria o herdeiro cruzava a porta do moinho com uma vara do engenho. Durante o luto a boca das cabaças eram tapadas e o moinho não "cantava". A vida seguia o seu curso mas assinalava-se o período de luto. Hoje sobrevivem os moinhos patrimonializados num esforço de salvar a memória. Ao longe outros gigantes ainda maiores assinalam o curso inexorável do tempo: as eólicas aproveitam o vento, hoje como ontem. Esbeltas e gigantes, usam o vento para produzir electricidade.
Um Estranho numa Terra Estranha
Levantou Poeira
Ah, veio a chuva! A poeira vinda do deserto finalmente foi lavada.