domingo, 21 de março de 2021

Mariquinhas, Mãe-coragem



 Recordo a Mariquinhas: era uma negra bonita, perdida algures na região Oeste. Lembro-me dela na Lourinhã, nos anos 80, às vezes refugiada no álcool, presa fácil de homens pouco escrupulosos. Mãe-coragem de uns quantos filhos que amou (consta que um deles é hoje artista consagrado), foi tendo os seus filhos por aí, mas sempre os amou e criou na sua precariedade. Era uma mãe cuidadosa e terna.

Negra retinta, angolana linda, estive há dias junto à sua campa de mármore raro, castanho e rosa. Uma foto dela muito jovem, sorriso rasgado a falar de uma promessa de felicidade que a vida lhe teria roubado, não fosse o tesouro que criou com o amor que os homens apenas desprezaram. A sua campa é de mármore, adivinho que seja a última declaração de amor dos seus filhos. Mariquinhas bonita, frágil, negra num mundo de brancos, viveu algum desprezo e racismo.

Mariquinhas guerreira, mãe-coragem, sozinha contra o mundo, criou e amou os seus filhos. A semente que deixou dá hoje belas flores.

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