segunda-feira, 22 de março de 2021

Em 1610 Galileu Galilei usou o seu novíssimo telescópio para observar aquilo que filósofos e clérigos proibiam:o céu! O telescópio era bem-visto para utilizações mais mundanas, como observar de longe a chegada de navios. Mas o céu não, esse era a morada de Deus, intocável, inquestionável. Ou desconheciam a natureza humana, ou conheciam-na o suficiente para pretenderem policiá-la. O facto é que Galileu apontou mesmo o telescópio ao céu , e com isso acabou por dar consistência á revolução iniciada por Copérnico. O velho sistema ptolomaico e aristotélico, geocêntrico e por consequência antropocêntrico tinha sido posto em causa. Copérnico propôs o sol como centro, com os planetas rodando à sua volta 50 anos antes. A inquisição não perseguiu Copérnico. Porque ele apresentou o seu livro como "uma mera especulação matemática", e porque morreu pouco depois da publicação da sua teoria. Faltou a Copérnico tempo e a invenção do telescópio que Galileu acabou por introduzir. E com ele as observações do céu vieram finalmente provar que o heliocentrismo de Copérnico, corroborado pelo acervo de observações de uma vida de Tycho Brae que serviram de base para os cálculos do seu assistente Kepler era finalmente observável. A observação das fases de Vénus provavam que o sol estava de facto no centro. As montanhas da Lua provavam tratar-se de um mundo, não de um espelho baço. As luas de Júpiter demonstravam que os movimentos dos corpos eram os propostos por Copérnico e por Kepler e que nem todos os corpos celestes giram em torno da Terra. Júpiter recriava um mini-sistema solar. Galileu publicou as suas descobertas, que desagradaram profundamente ao clero e aos filósofos seus contemporâneos. É famosa a carta que Galileu escreveu a Kepler dizendo que alguns filósofos simplesmente se recusaram a olhar pelo seu telescópio, para comprovarem eles mesmos. Isso iria obrigá-los - como obrigou - a deitar fora a velha teoria geocêntrica de Ptolomeu e de Aristóteles. O saber antigo que tinha servido por 1500 anos fora finalmente destronado, mas Galileu pagou um preço elevado por isso: foi julgado e condenado pela inquisição, tendo sido obrigado a abjurar, passando vários anos da sua velhice na prisão, onde morreu. O ego humano não aceitou de bom grado ser destronado do centro da criação! Filósofos e clérigos recusaram aceitar o erro básico da Bíblia que postulava o Homem como feito à imagem e semelhança de Deus e por ele colocado no centro da criação. A recusa de olhar pelo telescópio do Galileu ficou como um ícone, um eco eterno acerca da luta ente o ego humano e a realidade aflitiva e indiferente do universo que ele habita. Galileu, velho, derrotado era quem tinha razão. No final os antigos sábios foram derrotados. Quem detém o conhecimento, mesmo que fictício, e o poder que ele representa, não gosta de o perder. Triunfou a ciência contra a ignorância. Mas esse triunfo custa sempre ao cientista solitário.

 

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