domingo, 21 de março de 2021

Tiangong 1, a Casa no Céu



 Percebes a importância das modernas tecnologias da informação quando recebes um telefonema do teu sobrinho que tem 16 anos a perguntar se seria possível ver a queda da estação espacial chinesa Tiangong 1. Vamos por partes: considera-se que algo está no espaço quando está a 100 kms de altura.

Se estiver na horizontal e com velocidade de 7,3 kms/s estará em órbita baixa terrestre. A Tiangong 1 está na órbita baixa terrestre e vai cair dentro de duas horas. O que faz deste objecto algo de especial? Na verdade quase nada, a não ser o facto de que a sua queda não é controlada.

Não é, nem de longe, o objecto mais pesado que já colocámos em órbita. Todos os objectos que lá colocamos estão condenados a cair. A 100 kms de altura ainda há vestígios substanciais da atmosfera terrestre. Em virtude disso os objectos colocados em órbitas tão baixas sofrem atrito, travam e acabam por cair. Exemplo disso são os satélites espiões. Resistem em órbita por poucas semanas e caem. A estação espacial internacional está muito mais alto, acima dos 400 kms de altura. Até aí encontramos uma ou outra molécula de ar que provoca atrito. Para evitar a queda os parceiros internacionais da ISS usam o ATV europeu ou a Progress russa para dar o empurrão necessário para a reposicionar numa orbita mais alta. Gastam em média 7 toneladas de combustível por ano para isso.

A Tiangong 1 está muito longe de ser o maior objecto posto em órbita. Tem apenas oito toneladas. Nos anos 70 a NASA colocou o seu Skylab no espaço. Era um monstro de 73 toneladas. Caiu em 1979 também descontroladamente e não atingiu ninguém. O mesmo aconteceu com a MIR russa. Foi desorbitada de forma controlada sobre o pacífico sul. Tinha 130 toneladas e algumas peças chegaram ao mar. Até o ATV europeu pesava mais (13 toneladas) do que a Tiangong e ninguém falava dele: era desorbitado de forma controlada.

Lembremos o seguinte: qualquer objecto que caia do céu a essa velocidade e que não possua um escudo térmico irá arder: a Tiangong 1 não tem escudo térmico e esse é o seu destinho devido ao atrito com a atmosfera. Quanto muito algumas peças de metal poderão sobreviver à reentrada. A probabilidade do perigo de levar com uma peça é milhões de vezes inferior à de ganhar o Euromilhões.

E no entanto o tema da minúscula estação espacial chinesa é um assunto de topo. Tendo em atenção a área do globo terrestre e desse volume, a percentagem de área oceânica, a probabilidade sequer de ver o fogo de artifício da reentrada é mínima. Pelo menos vai pôr muita gente de nariz no ar e a pesquisar sobre o assunto. Não percam o sono, não vale mesmo a pena.

Sem comentários:

Enviar um comentário