sábado, 11 de outubro de 2008

Prenda de anos

Fizeste 7 anos, e já andas todo ufano por estares na escola dos meninos grandes. Chegas a casa entusiasmado, e mostras-nos as letras que já aprendeste, pedes ajuda nos trabalhos de casa. Não és meu filho, mas para nós é como se fosses. Ainda ontem, num deslize freudiano me chamas-te pai. Tio ou pai pouco importa. Adivinhava a tua vinda quando ela parecia a todos muito improvável, e nestas relações de parentesco não há rivalidade. Dei-te a prenda que tu tanto querias: um transformer horrível, meio máquina, meio tanque de guerra. Mas não achamos boa ideia esconder-te a violência que vai no mundo. Achamos que tens que saber da sua existência, conviver de forma responsável com esse facto da vida. Só escrevo isto porque sei que não vais ler, pelo menos para já. Talvez um dia, quando eu não passar de uma memória, isto te venha parar às mãos. Alguém anda já atarefado a guardar estas memórias da humanidade, e assim sendo, quem sabe um dia? Se assim for, não fiques triste ou infeliz. Fica sabendo que adorei passar pela vida, e que a tua vinda foi para mim uma das maiores alegrias. Mas isso já tu sabes hoje mesmo.
Nunca te impus os meus sonhos. Tenho para mim que cada um deve viver os seus próprios sonhos, e que essa é a principal via para a realização pessoal e a felicidade. Ainda assim não escondo um certo orgulho quando te interessas pelos meus. Ontem apontei o telescópio para uma lua em crescente adiantado. Sentiste curiosidade e quiseste "espreitar". Adoraste os "buracos" na Lua, os "altinhos", as zonas claras e escuras. E desta forma, no teu aniversário, fui eu que recebi a melhor prenda. Ainda quiseste que eu te mostra-se o Júpiter, mas ele já estava do outro lado do prédio, e só estaria acessível de novo ao telescópio daí a um par de horas. De repente lembraste-te do teu transformer, e corres-te para ele. E eu fiquei a saborear o momento.

Cresce feliz, meu homenzinho!

Sem comentários:

Enviar um comentário