terça-feira, 21 de outubro de 2008

O teu olhar


Não, não vou - como sempre, aliás - escrever o teu nome. Não é necessário. Saberás, ao ler esta mensagem, que ela se destina a ti. Conhecemo-nos há apenas um ano, mas paira em mim aquela sensação estranha de que te conheço desde a eternidade. Acreditasse eu na reencarnação e diria talvez que já nos cruzámos noutras vidas. Mas como a minha busca do real prefere outra via, fico-me apenas pela estranheza. Os nossos olhos procuram-se porque (acho eu) sabemos que com eles comunicamos sem necessidade de palavras. Que dizia a Marguerite Yourcenar ? - às vezes as palavras traem os pensamentos! Os nossos olhos não mentem. Temos vários anos de idade de diferença. Há alguns meses atrás cometi a indelicadeza de te dizer que podias ter a minha idade. Não te zangues. É que é impossível olhar para ti, ou falar contigo, e não esquecer os teus 26 anos. A calma, ponderação e profundidade com que falas não se "encaixam" nessa tua juventude. Por isso mesmo parecemos almas velhas em corpos não tão velhos. Neste ano partilhámos já sonhos, vivências, cumplicidades. Definitivamente não me parece que sejam apenas cruzamentos fugazes na voragem dos dias. Não, algo de perene se insinua. E na indiferença dos muitos rostos anónimos com que me cruzo todos os dias, o teu nunca foi anónimo, desde o primeiro instante em que te vi. E quero que saibas que isso é para mim motivo de alegria, orgulho (e porque não dize-lo, de felicidade) quando esses momentos raros de diálogo sem palavras acontecem. Porque é nesses momentos que a solidão se sente acompanhada.

Sei que me entendes, e creio que eu também te entendo. E isso é algo de precioso, nesta cacofonia louca em que vivemos, em que toda a gente tem algo para dizer, mas muito poucos têm algo para ouvir.
Para ti haverá sempre tempo para te ouvir.

1 comentário:

  1. Não precisamos de nomes para existirmos, para sermos. Somos muito mais que uma mera congregação de letras. Não me importo com essa indigência porque sei que me sabes, que me sentes nesses olhares que vivemos.

    O teu cepticismo encontra a minha crença profunda de que a reencarnação é real. Não é uma convicção que se alimenta meramente de livros em estantes, mas, principalmente, de histórias vivas que se escrevem no fio do tempo e que nos habitam. Não me importo, nem me incomoda, que pensemos de modo diferente. Isso não muda o essencial. O amor existe para além de qualquer posição que se adopte. É ele que deve reger tudo o que somos e nos tornamos em acção porque uma vida sem amor tem pouco de vida...

    Não, não me zango. Entendi. Mas não voltes a dizer que tenho 39 anos! Começo a ficar preocupada com a qualidade da minha carcaça... ;)

    Fiquei profundamente sensibilizada e comovida com este olhar dado em palavras escritas.

    Agradeço-te os ouvidos disponíveis. Sabes que podes contar com os meus.

    Deixo, agora, o silêncio falar e o abraço acontecer. Quando te vir, faço questão que seja dessa maneira.

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