sábado, 3 de abril de 2021

Guerras Subtis

Quando a guerra dos sexos se veste de flores ou de plantas comestíveis.

Por cá, as mulheres competiam ou cooperavam entre si para terem jardins floridos e bonitos. Pelo contrário, os homens desdenhavam disso; para eles a terra era preciosa demais para ser desperdiçada com flores.

Eles cooperavam entre si pela troca de plantas, sementes ou árvores de fruto que garantissem comida na mesa. O engraçado disto é que eu participava desta guerra sem saber, e herdei-a sem me dar conta disso. No nosso quintal as manas plantam flores. A erva da fortuna, que eu detesto, fica, em memória da minha irmã Marília, que a plantou e de que gostava tanto.

As outras flores ficam, por carinho e respeito pela Maria, dona oficial de uma casa que continua na prática a ser de todos nós e que nesta altura vibra de vida.

Casa quase cheia, com gente e com memórias dos que já partiram. As flores servem também para honrar os mortos, são postas na campa da família. Adivinho que nesse local improvável onde agora se encontram que a mãe e a mana as apreciam, e que o pai continua a rir e a abanar a cabeça que não, que a terra deve servir apenas para produzir alimentos.

Eu herdei também isso do pai: por mim o quintal só teria estas plantas; os pessegueiros, as nogueiras, as nespereiras, o pé de fisalis, que eu e o pai plantámos, ou o aromático pé de poejo, planta aromática e medicinal, ameaçada de extinção, e que ali nasceu espontaneamente.

Dou espaço para as flores (eu mesmo plantei um pé de hera que trouxe da quinta da Moita Longa e que agora tenho que desbastar, é bonita mas também é um parasita que mata tudo o que abraça), mas prefiro plantas que dêm frutos. Feliz no meu cantinho a dar colo à minha sobrinha-neta Ava.


 

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