sábado, 3 de abril de 2021

A Raiz do Mal


Hoje imagino-me entrar por esta porta. No meu espírito paira a ideia estranha que muito do pó que aqui pisam são cinzas daqueles que neste lugar foram assassinados e queimados nos infames fornos crematórios.
Infâmia, uma e outra vez repetida. Não quero cair no erro fácil e perigoso de acreditar que a maldade reside apenas e só nos outros. Essa é justamente a ratoeira onde a humanidade tem caído uma e outra vez. Basta imaginar: e se de repente um poder imenso, sem limites nem sanções me caísse nas mãos, que faria eu? Eu, que tantas vezes me indigno, que tantas vezes penso que há gente que não merece existir; seria eu capaz de renunciar ao instinto básico e ao ódio, ou cairia facilmente nesse inebriante ódio que endeusa o Eu e demomiza o Outro? Que mistério é esse que leva uns á loucura e á orgia da morte, e outros á sobriedade e á coragem de lutar por um bem maior? Não, a solução nunca é acreditar que só os outros são detentores do mal. Essa é na verdade a raiz do mal. Não foram demónios que desceram á Terra para espalhar a morte: foram homens comuns a quem foi dado poder e que cederam aos instintos básicos, acabando por fazer coisas incomuns. Não é só o mal que habita os outros que nos deve manter vigilantes: é o mal que a qualquer momento nos pode seduzir que nos deve fazer reflectir.
 

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