quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Relógio parado










Outro dia. Apenas isso. E a dor, eterna companheira sempre presente, essa dor de alma, de tão intensa feita às vezes física, recusando tornar-se apenas memória e saudade. Ausência sempre presente, suponho que até ao fim do (meu) tempo. "Ouço apenas o silêncio, que ficou em teu lugar..." Tantas formas de te falar, mas todas apenas aos ouvidos (magnífica tecnologia...). Mas, e à alma? Chegariam lá as palavras, as ideias ? - E, sobretudo, os sentimentos? Não, já não creio, quebrou-se o fio condutor, e o relógio permanece parado. E a árvore frondosa é apenas isso, sem os frutos da semente, que não lamento, mas mais triste ainda, sem os frutos dos sonhos, esses que poderiam perdurar mais, mortos ainda na vagem. E os cacos de ouro brilham intensamente, desafiando o tempo que passou, mordazes, relembrando uma e outra vez a felicidade breve e perdida. E o que resta? Resta a convicção e a certeza da solidez do que foi um dia, verdade feita suporte da existência, tão sólida - acreditarias tu nisso? - como o nascer do Sol a cada dia. E o orgulho, a certeza que talvez nunca tenhas reconhecido de uma fidelidade absoluta, (às vezes tomamos a nuvem por Juno), e mais do que isso, de uma lealdade e confiança sem limites, inquestionável, inabalável, eterna enquanto durou.
Ao longe, do outro lado do rio, Lisboa resplandece, no final de cada tarde em que vejo o pôr do Sol sobre a serra de Sintra, em que te imagino no teu quotidiano, na corrida entre a casa, a família, o trabalho, a faculdade, o lazer, nesse quotidiano onde eu já não pertenço.

"Bonjour Tristesse"!

Adieu tristesse
Bonjour tristesse
Tu es inscrite dans les lignes du plafond
Tu es inscrite dans les yeux que j'aime
Tu n'es pas tout à fait la misère
Car les lèvres les plus pauvres te dénoncent
Par un sourire
Bonjour tristesse
Amour des corps aimables
Puissance de l'amour
Dont l'amabilité surgit
Comme un monstre sans corps
Tête désappointée
Tristesse beau visage.

Paul Éluard, La vie immédiate


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