sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Construir descontruindo...

E a faculdade recomeçou de novo. O prazer raramente sentido no início, torna-se agora uma constante. Rostos que me acompanham desde o primeiro ano reaparecem, os sorrisos simples , afectuosos e cúmplices reconfortam, as mãos que se tocam transmitem esse afecto tão vital.
As apresentações ganham outra vivacidade, o futuro trabalho de campo (mesmo com fracas condições logísticas) entusiasma, as apresentações dos professores são exigentes, mas estimulantes. Recomeçou pois a correria. O cliente que estava à espera do equipamento que não veio, porque algumas pessoas gostam de se esquecer das suas competências lá acabou por chegar(o meu grande problema é falar sempre em Chinês, pelo que obviamente ninguém entende o que eu digo...), mas o crhonopost funcionou, e lá consegui pôr o sistema a funcionar. O trabalho foi feito e o dia ganho, para a sopa de todos os dias, pois então. Nem dei pelo stress, de tão entusiasmado com o curso. Diverti-me com a cadeira de Simbólico, com o esforço titânico do professor para desconstruir as mais profundas convicções dos alunos, nada escapou, nem a democracia, nem a cultura, nem a política, nem os cientistas. É necessário destruir tudo! - Nero pensou o mesmo em relação a Roma, e se se bem o pensou, melhor o fez. Mas calei-me. Coitados dos miúdos, que lavagem ao cérebro. Afirma o professor que a acumulação de dados per se não vale de nada. Contraponho que não, relembro o trabalho de Thyco Brae que anotou com rigor durante anos a posição dos planetas, sem nunca ter resolvido a verdadeira natureza dos seus movimentos, a sua sovinice em fornecer dados ao seu discípulo Kepler, que apenas teve acesso ao espólio do mestre após a morte deste. Argumento que ao contrário da afirmação do professor, o trabalho de Thyco foi válido e importante, e constituiu uma base sólida para as leis dos movimentos dos planetas descritas por Kepler com base nas observações do mestre. Parece-me ver um sorriso matreiro nos olhos do professor, um ar de entendimento... desculpe lá professor, mas vou dar-lhe algum trabalho na sua pretensa "lavagem cerebral," hehehe. Também não é verdade que não se saiba nada sobre o cérebro humano. Temos as TEPS, as ressonancias magnéticas, as TAC... estamos longe da ignorância total. Desculpe professor, mas creio que se um sr de nome Damásio estivesse aqui não concordaria totalmente consigo. contrapõe que manchas azuis ou amarelas num papel não significam nada. Pois sim, sr. professor, fique lá com os pedais, que eu fico com o quadro, se não se importa, é claro. Fala-nos na solidão do cientista, na necessidade de cortes, diz que um certo senhor que aos 20 anos publica um artigo e acaba com Newton (quantos dos alunos saberão de que fala, já que o nome Einstein nunca foi pronunciado ?) Desculpe lá mais uma vez, sr professor, não negou Newton, que continua tão válido como dantes, dentro de um certo limite; e já agora, e ao contrário do que afirma, desculpe também em discordar, mas o Magueijo também não nega Einstein, vai é mais além (aparentemente). Aceito perfeitamente que é necessário desconstruir uma certa teia de convicções pouco sólidas que nos servem de base no dia a dia, mas vamos lá com calma... se não se importa, é claro! E os seres Humanos são tão especiais, tão únicos, com características que são apenas suas - uma espécie de semi-deuses, apeteceu-me dizer. Indaguei então o que levaria um grupo de elefantes a visitar os seus mortos, a acariciar os seus ossos? Retorquiu que eu poderia fazer um belo trabalho etnográfico entrevistando esses elefantes para saber o que pensam. Sr professor, eles não falam mas comunicam, e nós podemos atingir uma parte dessa comunicação.
Um dia cheio mas produtivo, e muito estimulante. Relembro Marcel Mauss e o seu "Espirito da Dádiva". Assobiei baixinho o dia todo. já no final do dia, uma música dos ABBA, da qual já me tinha esquecido, apanhada nas teias da rede. Que belo poema, que prazer... que sentido! Hoje, a cama grande e vazia não assusta tanto, a solidão permanece a mesma, mas sei que dormirei em paz, porque este não foi um dia perdido, porque falei com gente que entende a minha linguagem, sei agora com mais convicção do que nunca a que mundo pertenço. Paira um a tranquilidade que é minha, que talvez a quase ninguém mais interessa. Mas não foi um dia perdido, foi um dia ganho!


The Day Before You Came

ABBA

Composição: Benny Andersson & Björn Ulvaeus

I must have left my house at eight
because I always do
my train, I'm certain
left the station just when it was due
I must have read the morning paper
going into town
and having gotten through the editorial
no doubt I must have frowned
I must have made my desk
around a quarter after nine
with letters to be read
and heaps of papers waiting to be signed
I must have gone to lunch
at half past twelve or so
the usual place, the usual bunch
and still on top of this
I'm pretty sure it must have rained
the day before you came

I must have lit my seventh
cigarette at half past two
and at the time I never
even noticed I was blue
I must have kept on dragging
through the business of the day
without really knowing anything
I hid a part of me away
at five I must have left
there's no exception to the rule
a matter of routine
I've done it ever since I finished school
the train back home again
undoubtedly I must have
read the evening paper then
oh yes, I'm sure my life was
well within its usual frame
the day before you came

I must have opened my front door
at eight o'clock or so
and stopped along the way
to buy some Chinese food to go
I'm sure I had my dinner
watching something on TV
there's not, I think, a single
episode of Dallas that I didn't see
I must have gone to bed
around a quarter after ten
I need a lot of sleep and so
I like to be in bed by then
I must have read a while
the latest one by Marilyn French
or something in that style
it's funny, but I had no sense
of living without aim
the day before you came

And turning out the light
I must have yawned and
cuddled up for yet another night
and rattling on the roof
I must have heard the sound of rain
the day before you came

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