sábado, 6 de setembro de 2008

Ponte mental

Andava há já algum tempo para te ligar. Queria saber de ti, dizer-te que tinha adorado a nossa saída de campo, que o teu brinco afinal não estava perdido, tinha-o encontrado na manhã do Domingo seguinte, depois de uma noite de observação de infinitos, como aquele que se abre para nós quando olhamos as estrelas, tão mais próximas com a ajuda do telescópio, ou aquele outro infinito com que nos deparamos quando olhamos para dentro de nós próprios, com a essência daquilo que sabemos que somos, e, sobretudo, daquilo que não sabemos que somos...
Ontem "espreitei" de novo o teu blog. Fiquei um pouco angustiado, confesso. Senti urgência em falar contigo, saber se estavas bem. O teu telefone estava desligado. Aguardei para a manhã seguinte. Finalmente, a tua voz do outro lado. Fiquei mais calmo. Entendi melhor o que tinha lido. Naquela noite tínhamos falado de ciência, (de Astronomia é claro), mas tinha-mos falado de nós, de coisas da espiritualidade, dos amigos, dos que já partiram.... Alheio a essa angustia que te invadia, que apenas sentida (ou pressentias). Naquela noite magnífica de estrelas, alguém passou para o outro lado do espelho, e alguém de quem és amiga sofria. E tu, ainda sem saberes o exacto porquê, sofrias em silêncio. E os dois infinitos deslizaram sobre nós. E quando pousamos os nossos olhos sobre esses infinitos, é o próprio Universo que toma conhecimento de si próprio. Aqui. Agora. Matéria feita consciência. Triliões de protões, electrões, neutrões, numa dança louca mas cheia de coerência. Sopa de quarks, numa sinfonia que consegue esquecer (em francês) que para Dali o centro do mundo é a casa de banho de uma qualquer estação de comboios em Paris... Edificante!
Voltámos pois a por a conversa em dia. Falamos de projectos próximos, de novo coincidimos. O parapente é mesmo para fazer, (rimo-nos). O novo e maior telescópio também. O curso, definitivamente é para ir até ao fim. Fico com a sensação de que o crivo do tempo se encarrega de filtrar, de clarificar, de mostrar o que é bom de guardar. Assombro no desassombro. Existência que procuro feita sobre o alicerce forte da verdade. O caminho que se perfila não parece grandioso, mas afigura-se sereno. E nós sabemos sempre como nos encontrar. Procura não te esquecer que nem sempre o que parece é: "The dream is over", talvez agora, mas o mundo muda muito, e muito depressa. Há 30 anos a minha perspectiva de vida não era definitivamente um curso universitário. E no entanto... O sonho de voar de um jovenzinho poder vir a ser o futuro pesadelo do homem que pega num F16 ou num apache para matar gente, jovens, mulheres, crianças, velhos, gente como nós. Não devemos ser presumidos perante os Deuses, pois eles às vezes decidem realizar os nossos pedidos... Importa pois estarmos vivos e de boa saúde, sabermos que não estamos sós, partilhar a companhia das velhas pedras do Cromeleque de Almendres, tendo por cúpula 100.000.000 de estrelas da via-láctea.


Possa eu ser a ponte onde não há ponte, o barco quando não há barco..." lembras-te ?

Tudo se encaixa

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